segunda-feira, 18 de maio de 2009

Ah! Os Relógios



O poema abaixo, de Mario Quintana é uma ilustração ao fato já bem debatido pelos intelectuais da arte que a arte é um meio de reflexão necessário para libertar as pessoas das limitações do seu conhecimento. Fazemos a arte (música, pintura, teatro) no fundo para buscar um conhecimento maior, além das convicções formais e convencionais. Pois este poema usa sua liberdade para sugerir que questionemos a idéia arrogante do tempo, ficção de nossa ilusão.

Ah! O Relógios


Amigos, não consultem os relógiosquando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...