segunda-feira, 6 de abril de 2009

Espiritismo: religião ou falsa ciência?


Meu ranso com o espiritismo é que suas idéias o fazem vacilar entre a fé e a razão. Bem diferentemente, alguns padres católicos apresentam sua fé cristã da seguinte forma: consideram absurdo a recomendação, de São Tomé, de “ver pra crer”, pois, segundo eles, aquilo o que vêem é aquilo que sabem, enquanto que sua crença, ou seja sua religião, se baseia naquilo em que crêem, por meio de sua religiosidade íntima. Na medida em que o espiritismo é erigido pelo conjunto de teses elaboradas a partir do contato de seus médiuns com espíritos, esta doutrina se afirma no campo da razão, como uma ciência, baseando-se, portanto, em experiências empíricas, por meio das quais a razão humana procura conhecer e compreender a realidade. O problema é que ele não possui provas científicas, tampouco método científico, relegando-se à condição de pseudociência, isto é, falsa ciência.

Isto não significa que a crença espírita seja de alguma forma menos considerável ou respeitável que as demais. Isto apenas significa que a forma com que se apresenta, pretensiosa de adquirir a condição de verdade científica, a rebaixa da condição que poderia ter como religião ou, melhor, filosofia.

Platão acreditava na existência de um mundo das idéias, do qual este mundo concreto é uma mera e pálida reprodução, e o qual possui a essência responsável pelas características inerentes às coisas, à sua determinação. O mundo das idéias encerra as formas que se repetem nas coisas, isto é, as determinações observadas no mundo concreto. As variações e deformações, as diferenças individuais, as falhas, as indeterminações se devem à existência concreta das coisas, que é uma reprodução, uma cópia, da essência ideal impulsionada pela forma e idéia perfeita do mundo das idéias. Por exemplo, a forma comum de um cavalo (todos possuiem crina, quatro patas, rabo) se deve à essência do cavalo que reside no mundo das idéias, composto apenas daquilo que todos os cavalos possuem em comum.

Além disso, o filósofo acreditava em uma teoria de certa forma semelhante ao espiritismo, a gnosiológica, segundo a qual as pessoas, ao observarem um objeto repetidas vezes, recordam de experiências anteriores ao seu nascimento, da época em que habitavam o mundo das idéias. Antes de nascer, a alma de cada pessoa vivia em uma estrela, onde se localizam as Idéias. Quando uma pessoa nasce, sua alma é jogada para a Terra, e o impacto que ocorre faz com que esqueça o que viu na estrela. Mas, ao ver um objeto aparecer de diferentes formas (como as diferentes árvores que se pode ver), a alma se recorda da Idéia daquele objeto que foi visto na estrela. Tal recordação, em Platão, chama-se anamnesis. Íntima é sua proximidade com o que Vinícius de Morais dizia sobre os amigos: não se conhecem, se reconhecem.

Enfim, Platão possuía uma filosofia, uma convicção íntima, como poderia se chamar as crenças cultivadas nos dias de hoje, com a diferença de a sua crença ser inspirada por sua reflexão lógica, sua meditação sobre o mundo, por uma tentativa de organizar as coisas à sua volta e ler suas implicações. Ele não apresentava provas ou relatórios de contatos com espíritos: não precisava violar os limites de seu conhecimento físico, precisamente porque sua crença não pretendia ser uma ferramenta científica ou um dogma sedutor, mas uma fonte de elevação, de sincera e humilde busca pela verdade, no rumo contrário ao que assumiu o nosso espiritismo e seus médiuns hipócritas. Por estas razões, procuro sensibilizar a todos, inclusive os espíritas, a respeitar a opinião de todos e questionar o modo pelo qual se apresenta entidades como a espírtia, para afastar sua pretensão de verdade revelada, coisa que não existe e, se existe, é para enganar os humildes.